29 fevereiro 2012

A ORAÇÃO VERDADEIRA


1º de março de 2012 - Pe. Fernando Cardoso

Os textos bíblicos são escolhidos a dedo neste tempo da Quaresma, que é tempo favorável à conversão.
Hoje, em Mateus, escutamos um Evangelho extremamente consolador, pelo menos à primeira vista. “Batei e a porta vos será aberta; pedi e recebereis; procurai e encontrareis.”

Quem não conhece este texto? Quem nunca fez a experiência na própria vida deste texto? Quem nunca o observou? Nós nos comportamos diante de Deus como mendigos e, diariamente, Lhe batemos às portas.

Permitam-me, no entanto, relatar um fato que presenciei no final do ano passado, quando me encontrava em Tel Aviv, Israel, e me preparava para voar para Roma.

Estava no aeroporto, o avião estava um pouco atrasado e havia um grupo de brasileiros e brasileiras, cristãos mas não católicos, cristãos protestantes e de seitas pentecostais. Eu escutava a conversa daquelas pessoas com o pastor.

À pergunta: que graça receberam na Terra Santa? Uma afirmou que havia desaparecido sua artrose, uma segunda afirmou que havia desaparecido sua enxaqueca, uma terceira disse que não sentia mais dores nas costas, um quarto afirmou que conseguia dormir melhor e eu, comigo mesmo, pensava: “mas que pobreza, essa gente atravessou o Ocidente, e veio até aqui para receber esse tipo de graça?”

Ninguém ali, longinquamente, disse ter recebido a graça de entrar vivamente nos padecimentos de Cristo; ninguém disse ter recebido a graça da compaixão, isto é, de compadecer-se com Cristo; ninguém disse ter recebido a graça de entrar, com Cristo, no mistério Pascal de Sua morte, para viver, na esperança, a glória da Ressurreição. Ninguém recebeu estas graças, e eu dizia comigo mesmo: “que pobreza!”

Deus quer dar muito mais, mas essa gente, ao que tudo indicava, contentava-se com bem pouco; apenas isto que acabo de dizer, a modo de exemplo.

Provavelmente, não sendo pessoas católicas, não são pessoas que estão me ouvindo neste momento. Porém, se houver uma ou outra, que isto sirva de reflexão e exame de consciência pessoal.

Deus quer dar sempre mais, e nós teimamos em pedir e nos contentar sempre com menos. É verdade, já fizemos a experiência de ter pedido e não ter recebido, e isto porque nós devemos apresentar nossas súplicas a Deus, mas deixar a solução para Ele. Não fica bem, e não é rezar com as devidas disposições, apresentar com uma mão a necessidade, a tragédia ou o pedido, e com a outra mão apresentar a solução também. Aqui vai o meu pedido, aqui vai a minha súplica, e esta é a minha solução. Isto não é rezar como convém; isto não é rezar com reverência.

Devemos deixar a Deus, para o momento e forma como ele desejar, responder a nós. Mas tenhamos isto diante dos olhos: Ele quer dar muito mais, e por isso mesmo nos sintonizaremos melhor com Ele, se Lhe pedirmos o Espírito Santo. Não há nenhum dom superior, ou melhor, ou mais excelente, que o Espírito Santo.