22 outubro 2019

A MORTE NA CARTUXA



A MORTE NA CARTUXA:

A Cartuxa, dizem, faz muitos santos, mas não os proclama. Homens e mulheres, que sentindo o apelo irrecusável de Cristo ao deserto,
O seguem sem hesitação, toda uma vida. E tal como se retiram do mundo, para louvar a Deus em perpétuo silêncio e solidão, assim também passam à Vida Eterna, em silêncio, de forma anónima, sem cair na vaidade ou no orgulho do ego (“Eu fiz”, “eu disse”, “eu escrevi”…) sempre na maior das humildades tal como foi sua vida. Nem nome sequer inscrito na sepultura. Só humildade.


Diz um monge Cartuxo: “A morte é pois como um sacramento que coloca o monge diante de Deus (…) jamais o monge considera a morte como uma tragédia, mas sim uma bênção divina”.

Quando um monge Cartuxo morre, seu corpo é velado pelos restantes monges na igreja. O Prior depois da missa, asperge o corpo e a comunidade canta os salmos e responsórios estabelecidos para o cerimonial fúnebre. Depois, em silêncio, o corpo é retirado da igreja, e todos em procissão, padres e irmãos, vão-lhe dar sepultura no claustro.

Os monges Cartuxos são sepultados no claustro grande, que se encontra no centro do mosteiro, ladeado pelas diferentes celas. Num espaço do claustro encontra-se o cemitério, com suas cruzes de madeira simples, silenciosas e mudas, marcando o local onde um cristão foi sepultado. Seu corpo é depositado na terra sem caixão, apenas com um crucifixo nas mãos, e o capuz de seu hábito cozido tapando o rosto.

Depois de terminado os ritos fúnebres, toda a comunidade se reúne em Capítulo, e recorda-se brevemente quem foi este monge, podendo-se, por votação, atribuir-se uma pequena distinção, se se considerar que este teve uma vida santa: a atribuição das palavras “Laudabiliter Vixit” à frente de seu nome, na lista que é enviada ao Capítulo Geral, na Grande-Chartreuse. A atribuição do “Laudabiliter Vixit” é considerado dentro da Ordem, de forma informal, uma beatificação ou canonização, pois a Ordem, por norma, nunca estabelece processos em Roma para esses efeitos.

Nota: é igualmente muito comum, que nas Dioceses respectivas onde o mosteiro da Cartuxa se localize, seja o Bispo local a presidir às exéquias do monge falecido.