15 outubro 2019

EU TE CHAMEI PELO NOME

A irmã Jozenilde é a do meio.

(postado em 30/06/2020) 

Da Irmã Josenilde Pietrobom, Missionária da Consolata. 


Sim! Deus me chamou pelo nome e eu respondi à sua voz. E se olho para trás, os meus vinte e cinco anos de vida religiosa missionária, o meu coração transborda num profundo sentimento de gratidão, em considerar as grandes maravilhas que Ele operou em mim ao longo destes anos. 

Venho de uma bela e numerosa família, catorze irmãos, e pude experimentar o que significa ser amada, sustentada e incentivada na escolha de minha vocação religiosa e missionária. 

A minha gratidão vai aos meus amados pais, já falecidos: através de sua forte e simples fé, eu aprendi a colocar inteiramente minha vida nas mãos de Deus, que me ama de verdade e tem cuidado de mim. Minha mãe já me dizia: “Filha, Deus nunca vai te dar pesos maiores que tuas forças e que tu não possas carregar. Tenha confiança! Ele está sempre contigo, guiando-te e amparando-te”. 

Foi o exemplo de meus pais e familiares e por experiência feita com eles que senti Deus bem vivo na minha vida e me levou, nesse tempo ainda bem jovem, a sentir-me capaz de dizer o meu sim, quando Deus me chamou a proclamar as suas glórias às nações, como Missionária da Consolata. 

Deixei tudo na certeza de que ele estaria comigo sempre, nas horas alegres e tristes, nos momentos de provas, de renúncias e de dor, e , por isso, sinto-me feliz em ter ouvido a voz do Senhor e segui-lo. Só assim se pode pensar e querer viver em plenitude a vida religiosa. 

“Ele me escolheu e me enviou, colocando-me como uma aliança par ao povo, uma luz para as nações, para abrir os olhos aos cegos, curar os doentes, libertar da prisão os prisioneiros e da escuridão os que vivem nas trevas”.(Is 41,6-7) 

Gente! Quando seguimos a vocação, não é um favor que fazemos a Deus, mas é Deus quem nos favorece, preferindo-nos e escolhendo-nos entre milhões de seres humanos. 

Deveríamos ficar de joelhos a vida inteira com a cabeça curva, em agradecimento pela vocação recebida! Só na eternidade compreenderemos a excelência desta grande e maravilhosa graça. 

Foi pouco o que deixei e encontrei o cêntuplo e muito mais: em pais, irmãos, casas e bens, graças e bênçãos, e quero continuar assim bem feliz, enquanto a minha for útil para o anúncio da Boa Nova aos irmãos. Não tenhamos medo de deixar o pouco ou o muito que temos! 

Nosso fundador (Cônego José Allamano) dizia: “Deus nos chama e quer servir-se de nós, almas consagradas, para sermos os seus colaboradores na ordem da evangelização. Irmãos, que ninguém se perca pela nossa resposta negativa a Cristo. Ele continua chamando, pois sabe que os jovens são generosos e capazes de decisões heroicas. Sejamos atentos e dóceis à sua voz. É duro deixar casa, carros, festas, danças, luxos, mas vale a pena e com juros bem elevados receber a troca. 

O que são vinte e cinco anos para a eternidade de Deus? O que são treze anos de missão? Eu sei que bem pouco eu fiz, muito mais me esperava. Mas, Senhor, dou-te, feliz, o pouco que tenho, o pouco que fiz e ganhei. Apresento-me a ti com a pequena oferta da viúva, mas feliz em nunca ter parado ou desanimado na luta e na realização do bem (da minha vocação). O meu ponto de chegada não é aqui, vai bem mais além, até quando Tu quiseres, Senhor! Estou disposta a tudo com a tua graça. 

Sinto-me orgulhosa da minha vocação religiosa e missionária. O Senhor não podia me dar uma prenda maior, bem quisera que muitos jovens pudessem experimentar essa mesma experiência de vida. Vale a pena! Abram o coração a um ideal grande como este! Não tenham medo! É o próprio Cristo que chama e pelo nome! Ele não engana a ninguém! Tudo depende de nós. 

Ele quer vos entregar em vossas mãos milhões de irmãos que ainda não O conhecem e esperam pela vossa generosidade. Vocês nem imaginam e eu quisera que provassem a felicidade que sentiram meus pais e que continuam sentindo os meus irmãos e parentes por terem doado um membro da família a Cristo e ao serviço da Igreja aos irmãos, trabalhando diretamente pela causa do Evangelho, como pude trabalhar nas missões. 

A vida consagrada não é uma vida estragada ou perdida, sem sentido, como dizem muitos pais e muita gente, mas é um dom maravilhoso que o Senhor pede para si, para sua Igreja, para o serviço da comunidade e do povo. 

Há vinte e cinco anos eu fiz o meu juramento de ser para sempre fiel ao Senhor, fazendo meus votos de pobreza, castidade e obediência. 

Os anos voaram e neles pude realizar várias missões que as superioras me foram confiando aqui no Brasil e nas queridas e saudosas missões de Moçambique, para as quais sonho voltar. Rezem por mim! Vinte e cinco anos! Quantas coisas passaram e consegui realizar com a ajuda, a bênção e a graça de Deus. 

Vinte e cinco ano, não de fuga da vida, ou das responsabilidades, de comodismo ou de frustrações, de falta de realização no mundo ou de desilusões, não! Não foi isto para mim, mas sim, uma ajuda querida e aceita qual dom precioso de Deus. 

A religiosa deve ocupar-se das coisas do Reino. Os homens todos são seus filhos e pelos quais vale a pena doar a sua curta e breve vida. Obrigado, Senhor, pelos meus treze anos de missão em Moçambique, pela experiência lá vivida e por tudo o que lá pude ser e fazer pela Igreja e pelo povo. 

Eu sei o que me espera, mas vale a pena arriscar por um ideal tão grande. Não vejo outro mais sublime do que a causa do anúncio do Evangelho e a presença viva, ainda que pobre, de Cristo entre os irmãos tão provados e sofredores. 

Concluindo, quero elevar toda a minha gratidão ao Senhor pelos vinte e cinco anos e por todos os dons que me tem dado, pela minha família e pelas minhas coirmãs, por todas as pessoas maravilhosas que o Senhor colocou em meu caminho e que me ajudaram a realizar esta minha vocação e nela perseverar. 

Obrigado, Senhor, pelo trabalho que hoje realizo neste hospital (Santo Antônio, de Votorantim) com os doentes, porque me amas e estás ao meu lado, cada dia podendo recomeçar mais um período conforme a sua vontade. 

Uno-me aos céus e a terra para cantar: A minha alma, com Maria, engrandece ao Senhor, pois ele operou em mim grandes coisas. Amém. 

Irmã Jozenilde Pietrobom, Missionária da Consolata. Dezembro de 1985. 

(A irmã tinha 46 anos na época. Completou 50 anos de consagração em 2010. Em 2012 deu uma entrevista ao site Canção Nova. Se você estiver interessado, o link é este: https://noticias.cancaonova.com/brasil/integra-entrevista-com-religiosa-que-trabalha-ha-40-anos-na-africa/ . Ela foi para a África em 1972 e ficou algum tempo no Brasil, onde trabalhou no Hospital de Votorantim, e depois voltou para a África, de onde retornou em 2012).