REGRA APROFUNDADA

 

APROFUNDAMENTO DA REGRA

(Texto atualizado e reduzido em 24/04/2023)

1- Abandonar completamente o pecado

E lutar com todas as forças para vencê-lo, como diz Hebreus 12, 4, “Vós ainda não resististes até o sangue em vosso combate contra o pecado”!   Esforçar-se por praticar as virtudes e converter-se diariamente para uma vida mais santa. Abandonar os vícios. 


2- ROTEIRO DIÁRIO DE ORAÇÕES

Santo Agostinho diz que Deus não precisa de nossas orações, mas quer que rezemos, a fim de que nos preparemos para recebermos as graças que ele nos for conceder.

Quando não formos atendidos, é porque Deus tem outros projetos para encaminhar-nos à vida eterna. Confiemos nele! Nossa oração deve ser de agradecimento, louvor, petições e de silêncio. Peçamos tudo do que precisamos ou do que os outros precisam, mas nunca nos esqueçamos de submeter os pedidos à santa vontade divina, louvando, agradecendo e pedindo sempre o perdão de nossos pecados. Ou seja: em tudo o que pedirmos devemos dizer: “Se for de vossa vontade...”

É costume falarem que tudo é oração. Está certo que o relacionamento com as pessoas e a atividade pastoral fazem parte das orações, mas é também necessário aquele momento diário de diálogo com Deus. É como o operário, que mesmo trabalhando oito horas por dia por amor à sua família, precisa também ter com eles os momentos de diálogo! Não basta a ele apenas trabalhar.

Nem todos conseguem a contemplação, diz Santa Teresa de Ávila. Algumas pessoas vão se santificar apenas com as orações comuns, vocais, no nosso dia a dia. Entretanto, mesmo os não contemplativos podem se aproximar desse tipo de oração. Segundo São João Batista Vianney, é "Olhar para Jesus, sabendo que ele olha para nós". Ou, como dizia o beato Irmão Carlos de Foucauld, rezar é "olhar para Jesus, amando-o".

 

 A LITURGIA DAS HORAS

Pode ser seguida em livros (quatro volumes), em livrinhos mensais da Paulinas ou no site LITURGIA DAS HORAS. Em nosso site temos a liturgia das 9, 12 e 15 horas.

 

O ROSÁRIO

Reze o rosário nas horas em que puder. Eu costumo rezá-los em minha caminhada diária. Se não puder rezar o rosário todo, o que seria uma pena, pelo menos reze o terço do dia. Para auxiliar a meditação temos o ROSÁRIO ILUSTRADO, que montei com fotos do Caminho do Rosário de Aparecida.

 

 HORA SANTA

Sugestão para a Hora Santa: momentos de contemplação, os terços abreviados (da misericórdia, da libertação), o "Veni Creator", a Via Sacra, os sete Pai-nossos, Ave-marias e Glórias ao Pai pedidos por Maria em Medjugorje (pelo papa, pela paz do mundo, pelas 5 chagas de Jesus Cristo), cantos eucarísticos, alguma leitura eucarística. Tenho um blog em que há muitas orações para a Hora Santa e eu o uso diariamente: AO LADO TEU, SENHOR!

 

A SANTA MISSA

Nunca chegue atrasado (a)! Se não for possível participar dela diariamente, leia pelo menos as leituras programadas para aquele dia. Nunca deixe de ir aos sábados ou domingos! Link para as leituras e comentário diário: HOMILIAS DO EREMITA

 

 MEDITAÇÃO

Pode ser baseada na Bíblia ou em alguns dos textos que colocamos em nossos sites. Se preferir, compre um livro de meditações. Há muitos para serem lidos.

 

LEITURA ESPIRITUAL

Leia as leituras do Ofício das Leituras, no site que já indiquei acima, ou leia trechos diários de livros apropriados de autores católicos.

 

TRÊS EXPRESSÕES DA ORAÇÃO 

O catecismo católico, nos números 2700 até 2719, ou no resumo, de 2720 a 2724, diz que há três modos de expressarmos nossa oração:

- a oração vocal

-a meditação

-a oração mental

 

A ORAÇÃO VOCAL

Associa o corpo à oração interior do coração, como o Pai-Nosso ensinado por Jesus, a Ave-Maria, a Salve Rainha etc.

 

A MEDITAÇÃO

-É uma busca orante, que se utiliza do pensamento, a imaginação, a emoção, o desejo. Procura confrontar o assunto meditado com a nossa vida.

 

A ORAÇÃO MENTAL

É, como dizia o Santo Cura D'Ars, olhar para Jesus sabendo que ele também está olhando para nós. Ou como dizia o Beato Carlos de Foucauld, é olhar para Jesus amando-o. 

 

A diferença principal da oração mental com a meditação é que na oração mental não se fala nada, não se pensa em nada. "É um olhar fito em Jesus, uma escuta da Palavra de Deus, um silencioso amor" (CAC 2724). Já na meditação nos refletimos sobre o que tenhamos lido.

Muitos fazem a leitura orante da bíblia, que consiste nestes passos:

1) – ler um trecho bíblico;

2) – meditá-lo;

3) – orar sobre o que meditou;

4) – contemplar Jesus baseando-se no texto e na oração.

 

3-COMO MELHORAR E AUMENTAR O TEMPO DE ORAÇÃO

Dificilmente alguém pode viver uma vida de oração se passa horas a fio diante de uma tevê, diz o Pe. René Voillaume. Corte muitas atividades desnecessárias em sua vida e não perca muito tempo na tevê ou nessas atividades supérfluas.

O hábito da oração nos traz muita satisfação, alegria, paz, luz interior, força espiritual, segurança, prazer, e sabemos que estamos nos braços de Deus.

A técnica é ir aumentando cinco minutos de oração por semana (ou por dia). Em breve estaremos rezando três horas diárias.  O dízimo do dia em orações são duas horas e vinte e quatro minutos. O Beato Irmão Carlos de Foucauld rezava oito horas por dia!

 

 4-A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO

Não só é importante, como também é a atitude mais necessária para nossa salvação. Sem a oração, nunca conseguiremos nos encontrar com Deus e mudar a nossa vida para a santidade. 

Jesus orava sempre, em todas as ocasiões, no templo ou sozinho, à noite, de madrugada, no silêncio ou no meio do povo. Em Lucas 9,18, Ele estava no meio dos discípulos, mas orava sozinho. Hoje em dia, mais do que nunca, precisamos nos acostumar a fazer isso, ou seja, aprendermos a nos isolar no meio do barulho, que hoje é tão constante, e no meio das pessoas.

Sobre a oração, seria bom ver também Mateus 14,19.23; cap. 26,36-44; Marcos 1,35; Lucas 5,16; cap. 15, 36; cap. 26,26-27; cap. 3,21; cap. 6,12; cap. 11,1; cap. 9, 18.28-29; João 17,1-5; cap 14,16 e muitos outros trechos.

Diz Santo Agostinho que o Pai-nosso é a oração mais completa que existe, e que não há nenhum pedido que não esteja incluído nela. No Pai-nosso fazemos sete pedidos, sendo três relacionados à glória de Deus e quatro relacionados à nossa vida. Veja o Pai-nosso em Mateus 6,9-13.

Há no Novo Testamento algumas parábolas que falam da oração. Veja e medite sobre o que elas dizem: Lucas 11,5-8, o amigo importuno; Lucas 18,1-8, o juiz iníquo; Lucas 18,9-14, o fariseu e o publicano.

Diz 1ª Tessalonicenses 5,17: “Orai sem cessar”, ou seja, sem desânimo. Se nos mantivermos sem pecado, tudo o que fizermos de bom será oração. 

A oração, em si mesma, não é poderosa, como vemos em propaganda: “Oração poderosa ao menino Jesus de Praga”, ou coisas desse tipo. Qualquer oração, se for feita com sinceridade, será ouvida por Deus, nenhuma delas ficará sem resposta. Se Deus não nos atender do modo como pedimos, vai talvez dar um direcionamento diferente ao nosso pedido, de modo que estejamos sempre juntos a Ele, agora e depois de nossa morte.

Confiemos plenamente nele! Ele sabe o que é melhor para nós, e para executar seus planos, só precisa de nosso consentimento, que é dado pela oração. Na verdade, não são tanto as palavras da oração que movem Deus a nos ajudar, mas o simples fato de estamos ali, diante dele, pedindo que Ele interfira em nossa vida. É o que eu entendo com Apocalipse 3, 20; “Eis que eu estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos juntos.”

Pela oração, estamos abrindo as portas de nossa vida a Ele, para que Ele possa executar em nós o plano que tem a nosso respeito.

Nesse sentido, eu acho horrível e muito errado obrigar Deus a fazer o que quer que seja para nós, “determinando” a graça, como ouvi em programas evangélicos e até católicos. Não podemos determinar a graça de Deus. Ele que nos conceda o que bem entender! Veja o que diz Tiago 4,3-4 e 14-16 a esse respeito: em tudo busquemos a vontade de Deus.

Quanto à oração comunitária, devemos participar sempre que possamos. Se não pudermos participar da Missa ou da Liturgia da Palavra pelo menos uma vez por semana, busquemos a companhia de alguém e façamos com essa pessoa uma leitura bíblica, conversemos um pouco sobre essa leitura e façamos uma oração em comum. Esse costume cumpre, de certa forma, a obrigação de participarmos da S Missa, quando não houver nenhuma igreja perto e nenhum modo de celebrar a Missa. 

 

5- A ORAÇÃO NA BÍBLIA

A bíblia toda é como uma oração, mas temos os salmos, que eram músicas cantadas no templo, e muitas orações espalhadas pela bíblia, como o cântico de Ana, o Magníficat de Maria, o Benedictus de Simeão, alguns louvores de São Paulo etc.

No Novo Testamento temos ainda o Pai Nosso que, em Mateus, traz sete pedidos e em Lucas, cinco (Mateus 6,9-13). Diz Santo Agostinho que qualquer pedido que façamos já está contido no Pai Nosso.

Há várias parábolas que falam da oração, como "O amigo importuno" (Lucas 11,5-8), "O Fariseu e o Publicano (Lucas 18,9-14), "O juiz iníquo" (Lucas 18,1-8). São Paulo diz, em 1ª Tessalonicenses: "Orai sem cessar!", ou seja, sem desânimo!.

Se não tivermos pecados, tudo o que fizermos poderá ser oferecido como orações, desde que tenhamos aqueles contatos pessoais com Deus durante o dia. Aí "oraremos sem cessar".

O Pe. Ponciano, de Aparecida disse, em certa missa, que "A oração diminui a distância entre nós e Deus".

 

6-A NECESSIDADE DA ORAÇÃO

A oração é a coisa mais importante que existe! Sem ela, não há como comunicarmos com Deus e não alimentamos nossa espiritualidade, nossa vida eterna, não adquirimos a força, o ânimo e a alegria de viver, não nos tornamos santos, não ajudamos as pessoas que precisam de nossa intercessão. Sem ela, nosso alimento espiritual, a vida perde o sentido e torna-se mais difícil de ser vivida. Ela renova as nossas forças para enfrentarmos as dificuldades não só de nossa vida normal, mas também de nossa vida cristã. Sem a graça de Deus, nada conseguiremos fazer e não poderemos nos salvar.

É por meio da oração que pedimos a intervenção de Deus em nossa vida e lhe dizemos “sim” à obra da Salvação. É pela oração que lhe pedimos perdão e lhe dizemos que perdoamos aos que nos ofenderam, a nos humilharmos diante dele, e abrimos as portas do coração, como pede o Apocalipse 3.20: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo”.

Abrir a porta a Deus é, antes de tudo, abri-la aos pobres e necessitados, aos doentes e oprimidos. Por outro lado, sem ela, nunca teremos ânimo nem desejo de fazer o bem a quem quer que seja. “Abrir a porta a Jesus pela oração é, como na hemodiálise, “arejar”, filtrar”, “purificar” nossa vida, nossos desejos e propósitos, é tirar-nos de nós mesmos, do egoísmo, e nos colocarmos à disposição dos outros e do que quer Jesus nos fazer.

Rezar é como ligar a TV na tomada, ou ligar o ferro de passar roupa, ou como colocar gasolina no carro, ou como instalar a bateria para dar-lhe a partida. “Sem a oração viramos bichos!” - diz com humor o bispo D. Angélico S. Bernardino. Também como dizia sempre o pároco de minha infância: “Quem não reza para dormir, dorme burro e levanta cavalo!”.

A oração está para nós e Deus como a conversa para dois amigos. A oração é a “conversa” entre nós e Deus.

“Para Deus tudo é possível” (Mt 19,26); “Para Deus nada é impossível” (Lc 1,37); “Se tiverdes fé (...) nada vos será impossível” (Mt 17,20). Tomamos “posse” do Reino de Deus e dessa graça maravilhosa que ele está sempre disposto a nos dar, pela oração.

No silêncio interior nós ficamos sabendo quem realmente somos.

 

7- DICAS PARA UMA BOA ORAÇÃO

 

PRIMEIRA ETAPA: ESCOLHER UMA BOA POSIÇÃO

Escolha uma posição confortável para a oração, do modo que você achar melhor. Quando em comunidade, devemos seguir as rubricas orientadoras (sentados, em pé, de joelhos).

 

SEGUNDA ETAPA: FAZER SILÊNCIO

Mesmo na confusão Jesus conseguia se isolar, como em Lucas 9,18: “E aconteceu que, estado ele só, orando, estavam com ele os seus discípulos”.

Deus nos fala no silêncio e na calma. Dizia São Francisco de Salles, no século 16, que os homens se entopem de barulho para não ouvirem a voz de seus corações. Em Oseias 2,16: “Vou levá-la ao deserto e aí lhe falarei ao coração.”

Ficar sempre procurando o barulho é uma forma de nunca se ouvir nem ouvir a Deus; é uma fuga dos próprios problemas, é uma forma de não aceitá-los para enfrentá-los. Não tema o silêncio! Com a simplicidade e a pobreza de uma vida humilde e sincera, você não precisará temê-lo. Enfrente-se!

 

TERCEIRA ETAPA: A ORAÇÃO PROPRIAMENTE DITA

Aqui você reza como achar melhor. Há a oração contemplativa, a oração vocal, a oração mental, a meditação. Acho que todas elas se resumem nos passos da LEITURA ORANTE DA BÍBLIA, que já explicamos acima.


8 - A QUALIDADE DA ORAÇÃO

Como já dissemos acima, não há oração poderosa e não poderosa. Toda oração pode ser ouvida, se Deus assim o quiser, se for feita com sinceridade de coração e se você estiver precisando daquela graça, ou seja, se essa graça for realmente útil para você.

Reze com confiança e deixe tudo nas mãos de Deus. Limite-se a pedir e fazer tudo o que estiver ao seu alcance. O conceder ou não a graça depende da vontade dele.

Em Lucas 18,9-14 Jesus atende ao publicano por ter sido humilde em sua oração, mas não atende ao fariseu, por seu orgulho. Em Mateus 6,7, Jesus criticou a oração dos pagãos, que achavam ser atendidos pelo muito pedir. Como explicar, então, o Rosário, que parece ser uma repetição?

Na verdade, essa repetição é como um “mantra”, uma música de fundo, que forma como que o cenário para a oração principal, que é a meditação dos mistérios do rosário. Enquanto você reza as Ave-marias, seu espírito se une a Deus pela contemplação dos mistérios abordados.

Não se trata, portanto, de uma “vã repetição”, como poderíamos pensar. Aliás, o rosário desacompanhado das meditações dos mistérios não tem muito sentido, diz o falecido São João Paulo II.

Outra coisa é o modo de dar “receitas” de como rezar para obrigar Deus a nos atender. Isso é uma loucura! Já dizia o livro da Sabedoria 1,1-2: “Pensai no Senhor com retidão, procurai-o com simplicidade de coração, porque Ele se deixa encontrar pelos que não o tentam”.

Ora, uma das formas de “tentar” a Deus é exigir que ele nos atenda, e do nosso modo. Coloquemo-nos nas mãos de Deus, e ele saberá do que realmente precisamos para viver e como viver, a fim de irmos para o céu após nossa morte. Diz Jesus em Mateus 7,9-11: “Quem de vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir um pão? Ou lhe dará uma cobra, se ele lhe pedir um peixe? Ora, se vós que sois maus sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedem!”

Pode ser, porém, que estamos na verdade pedindo a pedra, a cobra, em vez do pão ou do peixe. Só Deus sabe o que é melhor para nós! Devemos pensar não tanto nas coisas materiais, desta vida, mas na vida eterna!

Sobre a insistência na oração, Santo Agostinho diz que Deus sabe muito bem do que precisamos, mas quer que lhe peçamos muitas vezes para assumirmos aquilo que pedimos e nos conscientizemos da importância daquilo em nossas vidas.

Se o pai der a bike ao filho logo que ele lhe pedir, este não lhe dará o devido valor. Entretanto, se lhe prometer que a dará no final do ano, caso ele tire notas boas, por exemplo, na certa o filho vai ansiar receber o presente, vai estudar bastante e animar seu coração para utilizar bem a bike, quando recebê-la.

Assim é nossa oração: a demora provocará uma atenção maior ao pedido que fizemos e daremos mais valor à graça de Deus quando a recebermos. Muitas vezes eu agradeço a Deus por não ter atendido alguns de meus pedidos no passado! Decerto, agora eu estaria arrependido. Ainda bem que Deus não me atendeu!

A oração nos prepara para a provação, como diz Eclesiástico 2,1: “Filho, se aspiras a servir ao Senhor, prepara a tua alma para a provação!”

Orar é como lançar nossas raízes na corrente de água fresca (Salmo 1 e Jeremias 17,8), água fresca essa do amor de Deus. Nunca sentiremos o rigor da solidão, pois sempre sentiremos a presença de Deus. Sem a oração, nossa casa ficará deserta, pois não atenderemos Jesus, que quis reunir-nos “ Como a galinha reúne os pintinhos debaixo de suas asas” (Mateus 23,37-38).

“Vossa casa ficará deserta!” Que palavras terríveis! Imaginemo-nos sozinhos num deserto! Assim será a nossa vida sem a oração! A oração é como a água fresca, as frutas geladinhas, o alimento saudável que matam nossa sede e nossa fome do amor de Deus!

Sempre imaginei o inferno como um terrível, árido quente e dolorido deserto, em que não veremos ninguém e nada! Assim será a nossa vida sem a oração.

“Ó Deus (...) a ti procuro, de ti tem sede minha alma! Minha carne por ti anseia como a terra ressequida, sedenta, sem água!” (do Salmo 62/63).

 

9- A ORAÇÃO NO CATECISMO CATÓLICO:

O Espírito Santo, que ensina a Igreja e lhe recorda tudo o que Jesus disse, também a educa para a vida de oração, suscitando expressões que se renovam no âmbito de formas permanentes: bênção, petição, intercessão, ação de graças e louvor.

É porque Deus o abençoa, que o coração do homem pode, retribuindo, bendizer Aquele que é a fonte de toda a bênção.

A oração de petição tem por objeto o perdão, a busca do Reino, bem como qualquer necessidade verdadeira.

A oração de intercessão consiste numa petição em favor de outrem. Não conhece fronteiras e estende-se até aos inimigos.

Toda a alegria e todo o sofrimento, todo o acontecimento e toda a necessidade podem ser matéria da ação de graças, a qual, participando na de Cristo, deve encher a vida toda: «Dai graças em todas as circunstâncias» (1 Ts 5, 18).

A oração de louvor, totalmente desinteressada, dirige-se a Deus: canta-O por Si próprio, glorifica-O, não tanto pelo que Ele faz, mas, sobretudo, porque ELE É.

 

10-  CONFISSÃO - VIGILÂNCIA

CONHECER-SE E ACEITAR-SE

É preciso muito humildemente conhecer os próprios desvios, fraquezas, problemas, limites, vícios, manias, fraquezas, preguiça, vaidade, prepotência, mentiras, orgulho etc., e aceitar tudo isso para em seguida vencer-se.

As pessoas que tentam enganar-se a si mesmas, fazendo de conta que não têm este ou aquele problema, entrarão em “parafuso” e num sistema de recalque que as levarão cada vez mais ao abismo e aos erros. Nós somos o que somos diante de Deus, e nada mais.

Nosso passado já não existe, mas permanece em nossa memória e em muitos de nossos hábitos, sejam eles bons ou maus. Mesmo que tenhamos nos arrependido de nossos pecados, de nosso passado, não há como ignorá-lo! Desse modo, aceitá-lo e recomeçar uma vida nova a partir de agora, é a atitude mais inteligente e produtiva que podemos tomar. Mas cuidado! Aceitar-se não é permanecer no erro e forçar os demais a nos aceitarem como somos! É preciso vencer-se!

Na oração e nas suas confissões, coloque o seu passado nas mãos de Deus, peça perdão de tudo o que O desagradou e peça-lhe força, coragem e condições de retomar sua vida de um modo diferente, sem pecados. Deus nos ajuda, mas não nos substitui! Seja muito sincero (a) em suas confissões!

O Papa Francisco, em sua visita ao Brasil, disse que Deus nunca se cansa de perdoar. Nós é que nos cansamos de pedir perdão!

Se algum pecado já perdoado lhe vier à mente, diga a você mesmo que já foi perdoado(a) disso, que não quer mais praticar nada que ofenda a Deus ou que não seja permitido. Se for algum pecado de que até então você não tomara consciência, diga-lhe isso, peça-lhe perdão, proponha confessar-se logo que puder.

Aproveite e agradeça a Deus pelo perdão recebido, pelas graças recebidas e peça-lhe que o (a) ajude a vencer as tentações e provações. Diz Romanos 11,29: “Os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento!”

Nós somos o resumo de tudo o que fizermos na vida. Ignorar o que somos, ou mentir para ganharmos a simpatia dos outros, só nos vai trazer aborrecimentos. Nunca minta dizendo aos outros o que você não é. Tudo o que você não puder dizer, simplesmente diga que não pode falar sobre o assunto, ou coisa parecida, mas não minta. Exemplo: se você só viu o mar pela TV, e alguém lhe perguntar se você já foi ao mar, diga a verdade! Não há nada de vergonhoso admitir que nunca foi à praia.

Da mesma forma, se você for pobre, nunca minta dizendo que é rico (a). Seja sincero (a), e muitos gostarão de você como você é, e você estará sempre preparado (a) para a oração. Aceite-se!

 

11- SANTIFICAR A SOLIDÃO

Muitas pessoas se acham sozinhas, abandonadas, até mesmo depressivas por causa da sensação da solidão, mesmo vivendo em família.

Os textos que apresentamos neste blog site quer justamente nos levar a viver essa solidão, a viver esse aparente abandono, de modo bem diferente.

Jesus vivia no meio do povo, em sua vida pública, mas aprendera a ficar só. Como eu já disse acima, mesmo no meio dos discípulos, ele se isolava mentalmente para estar a sós com o Pai, como lemos em Lucas 9,18: “Estando Jesus a orar a sós, em meio aos discípulos...”

Jesus não encontrava pessoas do mesmo nível dele com quem pudesse falar sobre sua experiência divina. Nesse sentido, sentia-se sozinho quando estava rodeado pela multidão. Essa solidão desaparecia quando, sem ninguém ao seu lado, nos lugares desertos, podia se encontrar com o Pai, como vemos em João 16,32: “Eis que vem a hora, e ela aí está, em que sereis dispersos, cada um para seu lado, e me deixareis só. Mas eu não fico só, porque o Pai está comigo”.

São Carlos de Foucauld morava em lugares desertos pertencentes ao Saara. Vivia entre os tuaregues, povo muçulmano. Não conseguia conversar com ninguém sobre as maravilhosas experiências espirituais que tinha na solidão, como mostram os seus textos, alguns dos quais também encontrados neste site. Mas não vivia isolado. A comunhão com Deus na solidão se traduzia na comunhão com os seus irmãos todos do Islamismo, e no atendimento de até 60 hóspedes por dia, como ele mesmo afirmou algumas vezes.

Por que muitos de nós, tanto homens como mulheres, nos apaixonamos por esse humilde servo do Senhor e por tantos outros, tanto no Antigo como no Novo Testamentos, que buscaram o deserto, ou mesmo uma vida de solidão?

Por que sentimos o nosso coração arder ao lermos as frases bíblicas que relatam a ida de Jesus ao deserto para orar?

O que há de tão encantador num deserto?

Penso eu que o único modo de descobrir isso é fazer repetidos desertos em nossa vida! Transformemos a solidão de nossa vida numa experiência fértil de deserto! Em nosso isolamento, tiremos, como Moisés, as sandálias, só que para nós, sandálias simbólicas das coisas supérfluas, da vaidade, egoísmo, soberba, amor próprio exagerado, leviandades, gula, mania de levar vantagem em tudo, e aproximemo-nos da “sarça ardente”! Aproximemo-nos de Deus!

Vamos nos desvestir do “homem velho” e nos revestir de humildade, simplicidade, confiança! Revistamo-nos de Deus! E o deserto florirá em nosso coração e em nossa vida! As coisas passarão a ter sentido, mesmo os sofrimentos.

A alegria inunda a alma solitária que se encontra dessa forma com Deus, e ela não mais fica solitária. Sua solidão não será mais solidão, mas a charmosa e confortável sala de visitas onde receberemos o próprio Deus.

Rezar é olhar para Deus amando-o”, dizia o Irmão Carlos. Em nossa solidão, nunca mais nos sentiremos sozinhos, mas sempre com Jesus e, nele, sentiremos a presença das pessoas com quem nos encontramos no dia a dia.

A solidão com Jesus tem a magia de nos fazer descobrir que na verdade não estamos sozinhos, mas que há uma multidão de pessoas à nossa volta precisando de nosso sorriso, da paz que vamos lhes transmitir pela nossa vida. Vamos, então, não apenas proclamar, mas GRITAR o Evangelho às pessoas com a nossa própria vida.

É nesse sentido que o deserto é fértil! A solidão nos pesa quando somos individualistas, egoístas, avarentos, mal-humorados, vaidosos, nojentos, exigentes, mesquinhos, ou quando desprezamos as pessoas.

Entretanto, quando nos desvestimos disso tudo para estar com Deus, descobrimos a alegria da presença dos outros em nossa vida. O que quero dizer é que não são as pessoas que nos abandonam! Somos nós que nos afastamos, com nossas exigências idiotas, e nos isolamos. Somos nós que abandonamos as pessoas, e não o contrário.

Essa solidão que sentimos pode transformar-se, a partir de hoje mesmo, a partir de agora, numa festa, em que Deus é o personagem principal. Basta que nos ajoelhemos, agora mesmo, e peçamos perdão de nossos pecados, rezemos o ato de consagração diária e recomecemos uma vida nova com Deus e com os irmãos, cujas luzes aos poucos vão começar a brilhar na escuridão de nossa vida.

O deserto é fértil! É preciso receber Jesus em nosso coração para que possamos receber os irmãos e ver que não estamos sozinhos.

 

12-O TÉDIO DA VIDA

Chamado assim pelos monges antigos, “Tedium Vitae”, o tédio que nos assalta às vezes ou sempre, é um perigo muito grave para as pessoas incautas.

O (a) eremita que vive sozinho(a), tem que tomar muito cuidado com esse tédio, para não cair nas ciladas do maligno. É por causa desse tédio que muitas pessoas entram nas drogas ou no alcoolismo, ou adquirem vícios variados, como o jogo descontrolado, a mania de fazer compras (quando se tem dinheiro), mudanças desnecessárias, trocas insatisfatórias e tantas outras coisas. Mesmo vivendo em família isso pode ocorrer.

É preciso adquirirmos, além de um trabalho, um artesanato, o hábito da oração. Se mesmo depois do trabalho e da oração sobrar um tempo, pratique um hobby, cultive um jardim, aprenda a fazer crochê... A oração e o trabalho nos ligam a Deus, que renova todas as coisas. 

O tédio da vida nos leva, mais do que outras coisas, ao pecado. Combatê-lo e vencê-lo já é uma vitória muito importante para nossa vida a caminho da santidade.

Quanto ao hobby ou o trabalho, que ele não comece a ocupar de modo fanático sua vida, a ponto de eva-lo(a) a deixar de lado a oração. Crochê, artesanato com barro, tapetes, pintura, cerâmica, bordado, artesanato em geral, são coisas que podemos aprender a fazer para uma vida sem tédio, como faziam os monges, cujo lema até hoje é “Reze e Trabalhe” “Ora et Labora”.

Há também muitos doentes e pobres precisando de nossa visita. Procure um trabalho em sua comunidade, e pelo menos uma vez por mês visite algum doente ou alguma família pobre. Mas tome cuidado de não fazer isso sozinho (a), pois pode dar problemas de calúnia e má- interpretação.

Não cometa a atitude oposta, que é se apossar de tal forma do trabalho comunitário que ninguém mais consegue fazê-lo!

Eis alguns dos trabalhos comunitários: ministros dos doentes, da eucaristia, grupo de jovens, catequese, vicentinos, estudos bíblicos, farmácia comunitária, biblioteca, cursos, construções, novenas, terços nas casas, canto, liturgia em geral, peregrinações, jornalzinho paroquial, encontro de casais, etc.

Deixe-se orientar pelo seu pároco. Não seja individualista, mas trabalhe sempre em sintonia com os demais, nunca achando que você é dono (a) da verdade. É melhor caminhar mancando no caminho certo do que correr no caminho errado, dizia Santo Tomás de Aquino.

Nunca falte às reuniões paroquiais e de seu grupo de trabalho. Nunca se deixe levar pela preguiça

 

13- DIA DE DESERTO

Consiste em ficar o dia todo ou parte do dia sem nenhuma das tarefas cotidianas, buscar um lugar solitário e pensar em Deus e nas consequências que nos traz o fato de querermos amá-lo. Ler uma ou outra coisa para ajudar a meditação. É um dia de solidão e é muito difícil para quem não é acostumado (a). Eu mesmo tenho muita dificuldade em fazer esse tipo de coisa.

É uma experiência de esvaziamento de nós mesmos e experiência de que só Deus é o Absoluto de uma vida. Suspendendo nossas atividades, experimentamos a própria pobreza e a total dependência do Senhor. Experimentamos nossa fragilidade, nossa situação de criaturas.

O deserto é frequentemente um lugar de tentação. Alguns irmãos são tomados de melancolia, de desolação interior, de aridez. É então que sentimos a aguda necessidade do Espírito Santo para perseverarmos com coragem, apesar da nossa fraqueza, e permanecermos fiéis.

Humanamente falando, a maior tentação pode ser a procura de resultados imediatos do dia de deserto. O deserto não é primeiramente um lugar físico. No entanto, quanto mais simples e sem distrações o ambiente, mais favoráveis às condições para um dia proveitoso.

Isso é importante como é importante entrar no dia com o espírito aberto e generoso. Alguns procuram um sítio, outros vão a uma praia deserta ou fazem longas caminhadas. Outros simplesmente ficam num quarto vazio onde passam o dia. Nossa revisão de vida (ou nossa confissão) é preparada em oração no dia de deserto, refletindo e interpretando na fé a atual compreensão de nossa vida espiritual.

Faça pelo menos seis horas de deserto de vez em quando, quando você puder. Nos primeiros, leve uma bíblia para ajudar as suas reflexões.

Levante-se, tome o café da manhã e já prepare um lanche ou o que você vai comer no almoço, para não atrapalhar suas meditações. Se for a algum lugar deserto, leve o lanche. Rumine sua vida, seu relacionamento com Deus, com você mesmo (a) e com os irmãos. No deserto tiramos as nossas máscaras e nos vemos "nus" diante de nós mesmos! Na volta, agradeça a Deus e, se possível, vá a alguma missa.

 Para se aprofundar nesse tema, veja o artigo de nosso site: DESERTO, ENCONTRO COM DEUS, de Dom Edson Damian.

 

14-MOMENTOS DE DESERTO

Em vez de fazer o dia todo de deserto, eu prefiro fazer, mais vezes, momentos de deserto, com duração de uma ou duas horas, ou mesmo a metade de um dia. Acho mais produtivo! Tiro, por exemplo, a manhã de um dia da semana e fico apenas na meditação e em momentos de contemplação, ou seja, sem falar nem pensar em nada, apenas olhando para o crucifixo. Eu emendo o momento de deserto com a Hora Santa.

Acredito que seja uma solução para os que não encontram um dia todo para isolar-se no dia de deserto, principalmente porque os momentos de deserto podem ser feitos mais amiúde.

 

 15- EM BUSCA DA SANTIDADE

"Como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto está escrito: sede santos, porque eu sou Santo" (1ª Pedro 1,15-16; Lev. 20,7) Sede vós perfeitos como vosso Pai que está nos céus é perfeito (Mateus 5,48).

A santidade é um dom de Deus, que obtermos se a pedirmos e se lutarmos para obtê-la. Deus é como uma caixa de água em que estamos ligados; se o cano estiver enferrujado, não receberemos a água. Precisamos "limpar" o cano com uma vida santa.

A palavra “santo” significa “consagrado”. Pelo batismo nós nos tornamos santos, ou seja, consagrados. O cálice da missa, por exemplo, é santo, ou seja, consagrado, para nele ser colocado o Corpo e o Sangue de Cristo. Nós nos chocaríamos, nos escandalizaríamos se víssemos alguém tomar uma pinga ou mesmo café no cálice consagrado. No entanto, fazemos muito pior com o nosso corpo e a nossa alma, profanando-os com tantas coisas perniciosas.

O pecado pode ser grave (mortal) ou leve (venial). Diz São João em 1ª João 5,17: “Toda iniquidade é pecado, mas há um pecado que não conduz à morte”. E no vers. 16B, acrescenta: “... Existe um pecado que conduz à morte”.

A Igreja ensina que há três condições para que um pecado seja grave:

primeira – a matéria seja grave;

segunda- a pessoa tenha consciência do que está fazendo;

terceira- a pessoa tenha pleno consentimento do que está fazendo.

Por exemplo: nem sempre matar uma pessoa é pecado. Vou dar dois exemplos: um ladrão mata alguém para roubar: isso é pecado grave. Mas se alguém, que estava sendo roubado, mata o ladrão em legítima defesa: isso não foi pecado algum. Veja bem:

1- A matéria foi grave nos dois casos, pois alguém morreu.

2- Nos dois casos houve plena consciência do que se estava fazendo. Ou seja, os dois estavam conscientes e sabiam que matar é pecado e crime.

3- Não houve pleno consentimento por parte daquele que estava sendo roubado, ao passo que houve pleno consentimento naquele que estava roubando. Aí está a diferença entre pecado e não pecado.

Devemos buscar a santidade por vários motivos:

-Sermos agradecidos a Deus que nos criou, nos redimiu, nos dá uma vida eterna;

-Para participarmos dessa vida eterna;

-Para estarmos mais de acordo com o projeto de Deus ao nos criar. Como o liquidificador não foi feito para lavar meias (e não fazemos isso), o nosso corpo não foi feito para o pecado (e fazemos isso). Pecar é, portanto, como lavar meias no liquidificador. Nós somos a imagem e a semelhança de Deus. Quanto mais nos adequarmos a essa semelhança, mais feliz seremos.

-Para sermos realmente felizes. O pecado, principalmente quando é um vício, nos escraviza. A santidade nos liberta e nos enche de alegria, paz, bem-estar e uma verdadeira segurança.

No mundo de hoje, é muito difícil seguir o caminho da santidade. Há maneiras muito fáceis de voltar-se contra o que Deus quer para nós. A felicidade nos é apresentada nas coisas materiais e na satisfação de nossas necessidades biológicas, e, pior ainda, nas falsas necessidades biológicas. O que foi criado conosco, por Deus, para conseguirmos viver uma vida tranquila na Terra antes de irmos à nossa morada definitiva no céu, torna-se, graças aos vícios e ao mal, um verdadeiro inferno.

 Leia a conduta do monge na regra 4 da Regra de São Bento deste nosso site Eremitas Autônomos.

 

16-LAZER, HIGIENE, ESPORTES

Em João 21, Jesus se encontra com os discípulos após a ressurreição, mas esse encontro não foi numa igreja, ou numa cerimônia solene: foi numa praia, onde comeram churrasco de peixe com pão! Se Jesus fazia isso, por que não nós? Encontre, pois, um tempo para o lazer em sua agenda! A pessoa que não consegue um tempo de lazer e de repouso torna-se azeda, ranzinza e rabugenta. Jesus e os discípulos sempre encontravam tempo para o lazer e descanso, embora muitas vezes fosse apenas por pouco tempo.

Quanto à higiene, lembro que as pessoas que vivem sozinhas tendem a relaxá-la e se descuidam. Não confundamos as coisas: ser pobre não é o mesmo que ser "porco". O banho e a higiene devem ser bem notórios em nossa vida. Se você vive em família, a higiene é mais importante ainda. Há casos na história antiga de que muitos eremitas não tomavam banho. Santo Atanásio conta com certa naturalidade que Santo Antão nunca tomou banho nem lavou os pés em toda a sua vida de 106 anos. Mas isso foi nos tempos antigos! E no deserto!

 Quanto aos esportes, pratique o(s) que achar adequado(s) para sua idade e condições físicas. Podem consistir em ginásticas e/ou caminhadas. Jesus e os apóstolos caminhavam muito! Quando eles chegaram ao poço em que a samaritana lhes negou água, já haviam andado mais de 50 quilômetros! (João 4).

 

17-O BOM EXEMPLO

É muito importante! Jesus insistiu muito sobre isso. O anúncio do Evangelho vem antes pelo testemunho do que pelas palavras. Veja Marcos 6, de 7 a 13, em que os discípulos são enviados a pregar o evangelho na pobreza e com o bom exemplo.

Diz São Carlos de Foucauld que “Devemos (não só proclamar, mas) gritar o evangelho com a própria vida”, com o nosso bom exemplo. Desse modo, como diz Mateus 13, 33, seremos como o fermento na massa, o sal da terra, a luz do mundo. Isso inclui, é lógico, nunca julgarmos a quem quer que seja.

Muitas pessoas confundem julgar com fazer uma crítica construtiva. A crítica construtiva sempre é bem-vinda. O julgamento é que é proibido. Vou dar um exemplo para todos entenderem: Carlos derruba um copo no chão e quebra. Fazer uma crítica construtiva é mostrar-lhe como se pega no copo para não mais derrubá-lo, ou pedir que ele tome mais cuidado para que aquilo não mais aconteça. Julgar é começar a dizer que ele derrubou o copo porque tem raiva de você, ou por qualquer outro motivo consciente. Ou seja: julgar é achar que o outro agiu por maldade.

Muitos cometem erro sem ao menos terem tomado conhecimento de que era algo errado o que faziam. Não há como julgá-los, só ajudá-los com uma crítica construtiva.

 

18-O CAMINHO A ESCOLHER.

Em Provérbios 23,26, Deus nos diz: “Meu filho, dá-me o teu coração. Que os teus olhos gostem do meu caminho”. Ora, há dois caminhos: o do bem, que é estreito, e o do mal, que é largo e espaçoso. É preferível escolher, entretanto, andar devagar e até mancando, mas no caminho do bem, do que correr no caminho do mal, diz São Tomás de Aquino.

Em Deuteronômio 30, 15-20, Deus mostra os dois caminhos: o do bem, que nos leva à vida, e o do mal, que nos leva à morte, e pede que escolhamos o caminho do bem, o da vida. Em Mateus 5, 48, Jesus pede que sejamos perfeitos como o Pai celeste é perfeito, e a 1ª carta de Pedro 1,16, pede que sejamos santos como Deus é santo. Ou seja, esses trechos pedem que escolhamos o caminho do bem, que mais tarde só nos trará alegrias. O do mal, só nos trará tristezas, pois acabaremos indo ao inferno.

No final do sermão da montanha, ou seja, Mateus 7,24 a 27, e Lucas 6,47 a 49, Jesus pede que construamos nossa casa sobre a rocha, que é Ele mesmo, e não sobre a areia, que são os pecados, os prazeres, as coisas supérfluas. A casa construída sobre Ele não cai, mesmo que os ventos e a chuva a castiguem, mas a casa construída sobre a areia é destruída de maneira fácil. 

 

19- CONCLUSÃO

Ser eremita não é fácil. Muitos se acomodam numa vida de solteirões (onas) despreocupados com tudo e com todos. Acredito que não é isso que Deus quer de nós. No mundo atual não podemos viver isolados e alienados dos problemas da humanidade. Jesus nos deu o exemplo, pois nunca se isolou, apesar de viver intensa vida de oração. Diz S. Paulo: “Ai de mim se não evangelizar” (1ª Coríntios 9,16). Temos que encontrar um meio de viver o eremitismo sem nos isolar totalmente da comunidade. “Homem algum é uma ilha”, disse um escritor que depois foi citado por Thomas Merton, famoso escritor e monge americano.

Peçamos a Deus a sabedoria para agirmos de acordo com sua vontade.