NO DESERTO COM FOUCAULD
23.11.25
São Carlos de Foucauld pode ser adotado como modelo para nós, eremitas autônomos. Nasceu em 1958. Órfão de pai e mãe antes dos 6 anos, sofreu muito a ausência deles.
Viveu uma juventude desregrada, fútil, proporcionada pelo dinheiro que herdou do avô. Era tão fútil que mandou acrescentar um degrau em sua carruagem para não ter que levantar demais a perna ao entrar nela e porque várias vezes estava um tanto atordoado pelo vinho. Dava frequentes banquetes.Chegou a ter uma amante francesa, apelidada de “Mimi”. Entrou na milícia mas foi expulso do exército por mal comportamento. Havia perdido a fé herdada dos pais.
Uma de suas paixões era a exploração de terras. Disfarçou-se de rabino para explorar o Marrocos. Era excelente geógrafo, e mapeou totalmente o deserto do Saara, o que lhe deu boa reputação nessa área. Nessas andanças como rabino disfarçado, no Marrocos, começou a se questionar sobre o tipo de vida que vivia, pelo contato com as pessoas pobres e sérias. O testemunho de fé que os muçulmanos davam lhe despertou a questão crucial: ” Será que Deus existe?”
Voltou para a França e entrou em crise existencial. Começou a rezar uma única oração: “Deus, se existis, fazei com que eu creia em vós!” E essa oração surtiu efeito. Entrando um dia numa igreja de sua cidade, em que era pároco o padre Huvelin, pediu que ele respondesse algumas perguntas. O padre lhe disse que só faria isso se ele se confessasse (nunca havia feito isso). O padre estranhou o pedido, mas acabou cedendo e foi aí que entrou Jesus com toda a força em sua vida. O irmão Carlos costumava dizer que desde que Deus entrou em sua vida, ele não via outra coisa senão fazer sua Santíssima Vontade e a viver totalmente para Ele.
Deu toda a sua fortuna à sua prima e entrou na trapa N. Sra. das Neves, numa vida rigorosa para ser monge. Viveu 7 anos nessa trapa. Em certa visita que fez a uma pessoa pobre das redondezas da trapa percebeu que o doente era alguém mais pobre que os monges e não conseguiu mais viver ali: pediu que o liberassem para viver sozinho, como eremita. Foi-lhe concedido esse seu desejo e ele foi para Nazaré onde se instalou num pequeno quarto onde eram colocados os materiais de limpeza, na propriedade de umas irmãs contemplativas, Clarissas. Ele fazia todo o serviço externo. Viveu aí por 4 anos. Foi ordenado sacerdote em 1901.
Depois disso partiu para o deserto do Saara, indo morar primeiro em Beni-Abbés e depois em Tamanrasset tentando simplesmente ser amigo e irmãos dos nômades do deserto. Aprendeu a língua deles e ficou morando com os Tuaregues, por serem a tribo mais atrasada da época. Ali ficou até a morte, que se deu no dia 01 de de dezembro de 1916. Tinha 58 anos. Foi morto pelo descuido de um adolescente, de um grupo armado que estava invadindo o forte construído por ele, que o tinha como refém e disparou por nervosismo. Nunca procurou converter ninguém ao catolicismo. Vivia sozinho, mas sempre com visitas. Os biógrafos dizem que às vezes chegava a receber dezenas de visitas. Sua casinha estava sempre aberta a todos.
Nós, às vezes, complicamos muito a vida eremítica, desejando um isolamento que muitas vezes pode ser prejudicial. Nossa vida não deve ser isolada. Aliás, o próprio documento recente sobre o eremitismo, número 67, lembra isso aos leitores:
“O eremitério deve responder às exigências da mais rigorosa separação do mundo e da solidão que favorece o silêncio e a oração. Ao mesmo tempo, esse lugar não deve ser muito isolado, intransitável ou de difícil acesso. Esse lugar não deve estar muito longe de um local de culto se o aspirante a eremita não for presbítero. Os espaços devem garantir além das exigências mínimas da vida pessoal também a possibilidade de um local adequado para a oração, para a conservação da Eucaristia, com a autorização do Bispo e, se sacerdote, à celebração eucarística.” (§ 41, A forma de vida eremítica na Igreja Particular, doc. 67).
É claro que temos que nos adaptar às nossas condições limitadas. Se não houver espaço, separe um pequeno nicho onde colocar alguma(s) imagem(ns) e um crucifixo, por exemplo. Mas, como diz o documento, seu eremitério não deve ser isolado de tudo. Cabe a nós agendarmos momentos de solidão e de oração, sem contudo nos separarmos totalmente do mundo. A frequência pelo menos semanal à Missa é enfatizada pelo documento.
O irmão São Carlos de Foucauld, apesar de tantas visitas que recebia em seu oásis no deserto, rezava 8 horas por dia e ministrava aulas a um adolescente da tribo e se encontrava também com outras pessoas por vários motivos.
Eis o horário dele em seu eremitério:
30/09/1902
4hs – Levantar-se. Ângelus, Veni Creatur, Prima, Terça, Missa em ação de graças.
6hs – Tâmaras ou figos e disciplina (penitência)
6:15 – (mais ou menos) – 1hora de adoração ao Santíssimo sacramento
7:15 – Trabalho manual ou equivalente (correspondência, cópia de várias coisas, trechos de certos autores que são para conservar, leitura em voz alta ou explicação do catecismo a uma ou outra pessoa).
11:00 – Ângelus e Veni Creator. (Em seguida consagro a Deus a primeira parte da tarde, no Santíssimo, menos uma hora que reservo para conversas necessárias, respostas a dar aqui e acolá, cozinha, sacristia, necessidade da casa e esmolas.
De 12 às 12:30 - Adoração
12:30 – Via- Sacra, orações modais, leitura de algum capítulo do AT ou NT, Imitação de Cristo, algumas páginas de autores espirituais como Santa Teresa, São João da Cruz, São João Crisóstomo etc.
13:00 – Meditação escrita do Santo Evangelho.
14:00 – Teologia moral e dogmática
14:30 – Leitura para um rapaz negro de 15 anos, que quer converter-se (até às 15:30 hs)
15:30 – Contemplação
17:30 – Vésperas
18:00 – Ceia –(partilhada como rapaz de 15 anos, Paulo, e uma outra pessoal
19:00 – Evangelho explicado a alguns soldados, orações e bênção do Santíssimo com Cibório, mais Ângelus e o Veni Creator. Os soldados partem. Conversa com as crianças ao ar livre.
20:00 – Rosário, completas
20:30 – Repouso.
MEIA-NOITE – Veni Creator, Matinas, Laudes
01:00 – Retorno ao repouso
Veja mais sobre o irmão Carlos em nosso blog “GRITAR O EVANGELHO COM A VIDA” ou, mais especificamente: TEXTOS DE CARLOS DE FOUCAULD E SOBRE CARLOS DE FOUCAULD

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