27 junho 2011

LV-2-CAPÍTULO 05

 CAPÍTULO 5

Da consideração de si mesmo

1. Não podemos confiar muito em nós, porque frequentemente nos faltam a graça e o critério. 

Pouca luz temos em nós e esta facilmente a perdemos por negligência. 

De ordinário também não avaliamos quanta é nossa cegueira interior. 

A miúdo procedemos mal e nos desculpamos, o que é pior. 

Às vezes nos move a paixão, e pensamos que é zelo. 

Repreendemos nos outros as faltas leves, e nos descuidamos das nossas maiores. 

Bem depressa sentimos e ponderamos o que dos outros sofremos, mas não se nos dá do que os outros sofrem de nós. 

Quem bem e retamente avaliasse suas obras não seria capaz de julgar os outros com rigor.

2. O homem interior antepõe o cuidado de si a todos os outros cuidados, e quem se ocupa de si com diligência facilmente deixa de falar dos outros. 

Nunca serás homem espiritual e devoto, se não calares dos outros, atendendo a ti próprio com especial cuidado. 

Se de ti só e de Deus cuidares, pouco te moverá o que se passa por fora. 

Onde estás, quando não estás contigo? 

E, depois de tudo percorrido, que ganhaste se esqueceste a ti mesmo? 

Se queres ter paz e verdadeiro sossego, é preciso que tudo mais dispenses, e a ti só tenhas diante dos olhos.

3. Portanto, grandes progressos farás, se te conservares livre de todo cuidado temporal; muito te atrasará o apego a alguma coisa temporal. 

Nada te seja grande, nobre, aceito ou agradável, a não ser Deus mesmo ou o que for de Deus. 

Considera vã toda consolação que te vier das criaturas. 

A alma que ama a Deus despreza tudo que é abaixo de Deus. 

Só Deus eterno e imenso, que tudo enche, é o consolo da alma e a verdadeira alegria do coração.