10 março 2021

CONFESSAR-SE POR QUÊ?

POR  QUE DEVO CONFESSAR-ME?

Papa Francisco

Antes de mais, há que lembrar que o protagonista do perdão dos pecados é o Espírito Santo. 

Na sua primeira aparição aos Apóstolos, no Cenáculo, Jesus Ressuscitado fez o gesto de soprar sobre eles, dizendo: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem não os perdoardes não lhes serão perdoados» (Jo 20,22-23). 

Transfigurado no seu corpo, Jesus já é o homem novo, que oferece os dons pascais, fruto da sua morte e ressurreição. Quais são estes dons? A paz, a alegria, o perdão dos pecados, a missão. Mas dá, sobretudo, o Espírito Santo, que é a fonte de todos os outros dons. 

O sopro de Jesus, acompanhado pelas palavras com as quais comunica o Espírito, indica a transmissão da vida, a vida nova regenerada pelo perdão. Mas antes de fazer o gesto de soprar e conceder o Espírito, Jesus mostra as suas chagas, nas mãos e no lado: essas feridas representam o preço da nossa salvação. 

O Espírito Santo concede-nos o perdão de Deus, “passando através” das chagas de Jesus. As feridas que Ele quis conservar; também neste momento, no Céu, Ele mostra ao Pai as chagas com as quais nos resgatou. Em virtude destas feridas, os nossos pecados são perdoados: assim, Jesus ofereceu a sua vida pela nossa paz, pela nossa alegria, pelo dom da graça na nossa alma, pelo perdão dos nossos pecados. É muito bom olhar para Jesus desta maneira! 

Consideremos o segundo elemento: Jesus concede aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados. 

É um pouco difícil compreender como é que um homem pode perdoar os pecados, mas Jesus confere este poder. A Igreja é depositária do poder das chaves, de abrir ou fechar ao perdão. Na sua misericórdia soberana, Deus perdoa cada homem, mas Ele mesmo quis que todo os que pertencem a Cristo e à Igreja recebam o perdão mediante os ministros da Comunidade. 

Através do ministério apostólico, a misericórdia de Deus alcança-me, as minhas culpas são perdoadas e recebo o dom da alegria. Deste modo, Jesus chama-nos a viver a reconciliação também na dimensão eclesial, comunitária. E isto é muito bom! A Igreja, que é santa e que, ao mesmo tempo, precisa de penitência, acompanha o nosso caminho de conversão durante a vida inteira. 

A Igreja não é dona do poder das chaves, mas é serva do ministério da misericórdia e manifesta a sua alegria todas as vezes que pode oferecer este dom divino. Muitas pessoas talvez não compreendam a dimensão eclesial do perdão, porque predominam sempre o individualismo, o subjetivismo; e até nós, cristãos, sentimos os seus efeitos. 

É verdade que Deus perdoa pessoalmente todos os pecadores que se arrependem, mas o cristão está unido a Cristo, e Cristo está unido à Igreja. Nós, cristãos, temos um dom mais que os outros, tal como temos um compromisso mais: passar humildemente através do ministério eclesial. 

É preciso valorizar isto; é um dom, uma atenção, uma proteção e é também a segurança de que Deus me perdoou. Vou ter com o irmão sacerdote e digo-lhe: «Padre, fiz isto…». E ele responde: «Mas eu perdoo-te; Deus perdoa-te». Naquele momento, eu fico seguro de que Deus me perdoou! E isto é bonito; isto é sentir a segurança de que Deus nos perdoa sempre, que não se cansa de perdoar. E não devemos cansar-nos de ir pedir perdão. 

Podemos sentir vergonha de dizer os nossos pecados, mas as nossas mães e as nossas avós diziam que é melhor ficar corados uma vez do que ficar pálidos mil vezes. Ficamos corados uma vez, mas os nossos pecados são perdoados e prosseguimos o nosso caminho. 

Por fim, um último ponto: O sacerdote, instrumento para o perdão dos pecados. 

O perdão de Deus, que nos é concedido na Igreja, é-nos transmitido por meio do ministério de um nosso irmão, o sacerdote, também ele um homem que, como nós, precisa de misericórdia e se torna um verdadeiro instrumento de misericórdia, dando-nos o amor sem limites de Deus Pai. Também os sacerdotes devem confessar-se, tal como os Bispos: todos somos pecadores. Também o Papa se confessa de quinze em quinze dias, porque também o Papa é pecador. 

E o confessor ouve as coisas que eu lhe digo, aconselha-me e perdoa-me, porque todos precisamos deste perdão. Às vezes ouvimos certas 5 pessoas a afirmar que se confessam diretamente a Deus... Sim, como eu dizia antes, Deus ouve sempre, mas no sacramento da Reconciliação envia um irmão para nos trazer o seu perdão, a segurança do perdão, em nome da Igreja. 

O serviço que o sacerdote presta como ministro, por parte de Deus, para perdoar os pecados é muito delicado e requer que o seu coração esteja em paz, que o sacerdote tenha o coração em paz; que não maltrate os fiéis, mas que seja manso, benévolo e misericordioso; que saiba semear esperança nos corações e, sobretudo, que esteja consciente de que o irmão ou a irmã que se aproxima do sacramento da Reconciliação está à procura do perdão, como as numerosas pessoas que se aproximavam de Jesus para serem curadas. 

É melhor que, enquanto não se corrigir, um sacerdote que não tenha esta disposição de espírito não administre este Sacramento. Os fiéis penitentes têm o direito, todos os fiéis têm o direito de encontrar nos sacerdotes servidores do perdão de Deus. 

Caros irmãos, como membros da Igreja estamos conscientes da beleza deste dom que o próprio Deus nos concede? Sentimos a alegria deste cuidado, desta atenção materna que a Igreja tem por nós? Sabemos valorizá-la com simplicidade e assiduidade? Não esqueçamos que Deus nunca se cansa de nos perdoar; através do ministério do sacerdote, Ele abraça-nos de novo, regenerando-nos e permitindo que nos ergamos de novo e retomemos o nosso caminho. Porque esta é a nossa vida: devemos erguer-nos sempre de novo e retomar o nosso caminho! 

Papa Francisco, Audiência Geral, 20 de novembro de 2013