27 junho 2011

LV-2-CAPÍTULO 03

 CAPÍTULO 3

Do homem bom e pacífico

1. Primeiro conserva-te em paz, e depois poderás pacificar os outros. 

O homem apaixonado, até o bem converte em mal e facilmente acredita no mal; o homem bom e pacífico, pelo contrário, faz com que tudo se converta em bem. 

Quem está em boa paz de ninguém desconfia; o descontente e perturbado, porém, é combatido de várias suspeitas e não sossega, nem deixa os outros sossegarem. 

Diz muitas vezes o que não devia dizer, e deixa de fazer o que mais lhe conviria. 

Atende às obrigações alheias, e descuida-se das próprias. Tem, pois, principalmente zelo de ti, e depois o terás, com direito, do teu próximo.

2. Bem sabes desculpar e cobrir tuas faltas, e não queres aceitar as desculpas dos outros! 

Mais justo fora que te acusasses a ti e escusasses o teu irmão. 

Suporta os outros, se queres que te suportem a ti. 

Nota quão longe estás ainda da verdadeira caridade e humildade, que não sabe irar-se ou indignar-se senão contra si própria. 

Não é grande coisa conviver com homens bons e mansos, porque isso, naturalmente, agrada a todos; e cada um gosta de viver em paz e ama os que são de seu parecer. 

Viver, porém, em paz com pessoas ásperas, perversas e mal educadas que nos contrariam, é grande graça e ação louvável e varonil.

3. Uns há que têm paz consigo e com os mais; outros que não têm paz nem a deixam aos demais; são insuportáveis aos outros, e ainda mais o são a si mesmos. 

E há outros que têm paz consigo e procuram-na para os demais. Toda a nossa paz, porém, nesta vida miserável, consiste mais na humilde resignação, que em não sentir as contrariedades. 

Quem melhor sabe sofrer maior paz terá. 

Esse é vencedor de si mesmo e senhor do mundo, amigo de Cristo e herdeiro do céu.