CAPÍTULO 6
Da alegria da boa consciência
1. A glória do homem virtuoso é o testemunho da boa consciência.
Conserva pura a consciência, e sempre terás alegria.
A boa consciência pode suportar muita coisa e permanece alegre, até nas adversidades.
A má consciência anda sempre medrosa e inquieta.
Suave sossego gozarás, se de nada te acusar o coração.
Não te dês por satisfeito, senão quando tiveres feito algum bem.
Os maus nunca têm verdadeira alegria nem sentem a paz interior; pois não há paz para os ímpios, diz o Senhor (Is 57, 21).
E se disserem: Vivemos em paz, não há mal que nos possa acontecer, e quem ousará ofender-nos? - não lhes dês crédito, porque de repente levantar-se-á a ira de Deus, e então as suas obras serão aniquiladas e frustrados seus intuitos.
2. A quem ama não é dificultoso gloriar-se na tribulação; pois gloriar-se assim é gloriar-se na cruz do Senhor (Gál 6,14).
Pouco dura a glória que os homens dão e recebem.
A glória do mundo anda sempre acompanhada de tristeza.
A glória dos bons está na própria consciência, e não na boca dos homens.
A alegria dos justos é de Deus e em Deus, a sua alegria procede da verdade.
Quem deseja a glória verdadeira e eterna não faz caso da temporal.
E quem procura a glória temporal ou não a despreza de todo, mostra que pouco ama a celestial.
Grande tranquilidade do coração goza aquele que não faz caso de elogios nem de censuras.
3. É fácil estar contente e sossegado, tendo a consciência pura.
Não és mais santo porque te louvam, nem mais ruim porque te censuram.
És o que és, nem te podem os louvores fazer maior do que és aos olhos de Deus.
Se considerares o que és no teu interior, não farás caso do que te dizem os homens.
O homem vê o rosto, Deus o coração (1 Rs 16,7).
O homem nota os atos, mas Deus pesa as intenções.
Proceder sempre bem e ter-se em pequena conta é indício de uma alma humilde.
Rejeitar toda consolação das criaturas é sinal de grande pureza e confiança interior.
4. Aquele que não procura o testemunho favorável dos homens mostra que está todo entregue a Deus.
Porque, como diz S.Paulo, não é aprovado aquele que a si próprio recomenda, mas aquele que é recomendado por Deus (2Cor 10,18).
Andar recolhido no interior com Deus, sem estar preso a alguma afeição humana, é próprio do homem espiritual.