27 junho 2011

LV-2-CAPÍTULO 06

 CAPÍTULO 6

Da alegria da boa consciência

1. A glória do homem virtuoso é o testemunho da boa consciência. 

Conserva pura a consciência, e sempre terás alegria. 

A boa consciência pode suportar muita coisa e permanece alegre, até nas adversidades. 

A má consciência anda sempre medrosa e inquieta. 

Suave sossego gozarás, se de nada te acusar o coração. 

Não te dês por satisfeito, senão quando tiveres feito algum bem. 

Os maus nunca têm verdadeira alegria nem sentem a paz interior; pois não há paz para os ímpios, diz o Senhor (Is 57, 21). 

E se disserem: Vivemos em paz, não há mal que nos possa acontecer, e quem ousará ofender-nos? - não lhes dês crédito, porque de repente levantar-se-á a ira de Deus, e então as suas obras serão aniquiladas e frustrados seus intuitos.

2. A quem ama não é dificultoso gloriar-se na tribulação; pois gloriar-se assim é gloriar-se na cruz do Senhor (Gál 6,14). 

Pouco dura a glória que os homens dão e recebem. 

A glória do mundo anda sempre acompanhada de tristeza. 

A glória dos bons está na própria consciência, e não na boca dos homens. 

A alegria dos justos é de Deus e em Deus, a sua alegria procede da verdade. 

Quem deseja a glória verdadeira e eterna não faz caso da temporal. 

E quem procura a glória temporal ou não a despreza de todo, mostra que pouco ama a celestial. 

Grande tranquilidade do coração goza aquele que não faz caso de elogios nem de censuras.

3. É fácil estar contente e sossegado, tendo a consciência pura. 

Não és mais santo porque te louvam, nem mais ruim porque te censuram. 

És o que és, nem te podem os louvores fazer maior do que és aos olhos de Deus. 

Se considerares o que és no teu interior, não farás caso do que te dizem os homens. 

O homem vê o rosto, Deus o coração (1 Rs 16,7). 

O homem nota os atos, mas Deus pesa as intenções. 

Proceder sempre bem e ter-se em pequena conta é indício de uma alma humilde. 

Rejeitar toda consolação das criaturas é sinal de grande pureza e confiança interior.

4. Aquele que não procura o testemunho favorável dos homens mostra que está todo entregue a Deus. 

Porque, como diz S.Paulo, não é aprovado aquele que a si próprio recomenda, mas aquele que é recomendado por Deus (2Cor 10,18). 

Andar recolhido no interior com Deus, sem estar preso a alguma afeição humana, é próprio do homem espiritual.