27 junho 2022

A VOCAÇÃO EREMÍTICA

A VOCAÇÃO EREMÍTICA 


CITAÇÃO DO CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO: 

CÂN 603§ 1. Além dos institutos de vida consagrada, a Igreja reconhece a vida eremítica ou anacorética, com a qual os fiéis, por uma separação mais rígida do mundo, pelo silêncio da solidão, pela assídua oração e penitência, consagram a vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo. 

A VOCAÇÃO EREMÍTICA - Apanhado geral
23/08/2019 (EDIÇÃO SIMPLIFICADA REFEITA)


CITAÇÃO DO CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO: 

CÂN 603§ 1. Além dos institutos de vida consagrada, a Igreja reconhece a vida eremítica ou anacorética, com a qual os fiéis, por uma separação mais rígida do mundo, pelo silêncio da solidão, pela assídua oração e penitência, consagram a vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo. 


Ser eremita é uma vocação. Quem não foi chamado para esse tipo de vida não deve forçar. Não dá certo. Aliás, nada na vida deve ser feito por obrigação ou porque a pessoa ficou emocionada com alguma situação ocorrida. Quando Deus chama uma pessoa a uma determinada vocação, também lhe dá toda a força necessária para concretizá-la. Um (a) verdadeiro(a) eremita, por meio de sua vida, dá glória a Deus, se santifica e intercede a Deus pela salvação de todos os demais. 

Atualmente há uma grande procura por esse tipo de vida, mas são raras as vocações legítimas. Não sei se podemos, por exemplo, chamar de “eremita” quem vive a solidão apenas em finais de semana e feriados! Há muitos, também, que estão enfadados com o corre-corre do dia a dia e se iludem pensando numa vida solitária. Cuidado! Pode ser mera fuga da realidade! 

O(a) eremita é a pessoa que, chamado(a) por Deus, busca viver em solidão, oração e penitência. O local onde a pessoa vive é indiferente. Pode ser na cidade grande, ou numa cidadezinha, ou no ambiente rural, ou num deserto, ou na mata ou em qualquer outro lugar. Conheço um homem que se dizia eremita e viveu mais de dez anos na prisão. Em sua cela moravam mais de 22 pessoas. Morar na cidade tem suas vantagens: assistência médica e odontológica, internet, condução, alimentação etc. O importante, no eremitismo, é a solidão como um meio para nós estarmos com Deus. Isso não quer dizer que os que vivem no corre-corre do mundo não possa estar com Deus. Vamos dizer que, quem escolhe a solidão para se encontrar com Deus, escolhe isso porque tem mais facilidade de encontrar Deus nesse modo de vida do que em qualquer outro. 

A definição de “eremita” dada pelo dicionário é esta: “Pessoa que, através de penitência, habita lugares despovoados e/ou isolados. [Figurado] Pessoa que evita o contato social; que tende a viver sozinho(a) e/ou buscar a solidão; ermitão. Sujeito que toma conta de um ermida”. Os sinônimos de eremita são: ermitãoanacoretasolitárioasceta . 

Pelo visto já está claro que aqui estamos falando de pessoas que escolheram a solidão por amor a Deus, para se santificarem, para intercederem pelos demais. Não estão incluídos aqui os “solteirões” que vivem sozinhos apenas pelo prazer da solidão em si. Aliás, no YouTube pode-se encontrar muitos vídeos desses “eremitas” e suas aventuras. Não têm nada a ver com o que estamos comentando neste artigo. 

A vocação eremítica manifesta-se pela atração pela solidão, quando a gente percebe que na solidão consegue se aproximar mais de Deus e ao mesmo tempo ajudar mais ao próximo por meio da oração e da penitência. A vida solitária do (a) eremita lhe dá um fundamento espiritual que pode muito servir para a orientação de outras pessoas. A aversão pelas pessoas nunca deve ser para uma pessoa o critério para ela saber se tem ou não vocação. 

Essa atração pela solidão vem acompanhada pelo desejo imenso de salvar as pessoas para o paraíso. O amor a Deus é tão intenso no (a) eremita que ele (ela) deseja mandar para o céu o maior número de pessoas possível. Isso tudo deve estar envolvido por um desejo forte de se viver a castidade, uma vida simples e a obediência. 

A vida eremítica pode ser bastante desconfortável em muitas circunstâncias, que deverão ser superadas com paz interior. Um desses problemas é a insegurança. Viver sozinho (a) pode ser perigoso em muitos lugares. Aliás, vários grandes santos alertaram para esse problema da solidão e desaconselharam que se viva totalmente sozinho(a), como por exemplo São Bento, Thomas Merton. Nos meus artigos do blog e do site eu insisto para que a pessoa tenha uma certa presença na comunidade mais próxima ao seu eremitério. Ficar totalmente isolado não faz bem para ninguém. Nem Jesus Cristo viveu sozinho. Nesse sentido, Jesus nunca foi eremita, se não considerarmos as longas noites que ele passava orando na solidão. Ou seja: quem vai viver como eremita deve estar preparado (a) para qualquer tipo de desconforto e insegurança. 

Há também que se levar em conta a capacidade de se viver uma vida mais austera e mortificada do que as demais pessoas. A comodidade e a abundância podem estragar a vida de um (a) eremita. Entretanto, acredito que a humildade é a virtude que mais vai ajudar no caso da pessoa perceber que esse tipo de vida está lhe perturbando mentalmente ou fisicamente. Quem tem saúde precária e frágil, que precisa constantemente de medicação e companhia, dificilmente vai conseguir viver bem uma vida eremítica. Nesse caso, busque viver uma vida em comunidade. 

A vida eremítica também é impraticável para quem tem distúrbios mentais. 

Quanto à idade, em qualquer idade é possível ser eremita, mas muitos entendidos no assunto aconselham a que não se busque essa vida antes dos 30 anos de idade. São Bento foi eremita aos 19, assim como tantos outros, como Santa Rosa de Lima (eu estou escrevendo isto justamente em sua festa, 23 de agosto), mas eram outros tempos, em que pessoas de 40 anos já eram consideradas idosas. 

A experiência ideal para uma vida eremítica é a vida monástica, mas um (a) bom (boa) diretor (a) espiritual pode dar as orientações necessárias de todas as obrigações e deveres desse tipo de vida. As outras virtudes são necessárias para qualquer tipo de vida que se escolha. Uma boa formação humana pode sanar as falhas da educação atual. 

Muitas virtudes não são tão perceptíveis numa vida eremítica, mas outras tantas são muito importantes, como a disciplina, o auto domínio, a sobriedade em tudo (menos na oração), e por que não dizer do capricho na limpeza? Como ninguém vai reclamar, uma pessoa que mora sozinha pode relaxar na higiene pessoal e do ambiente. Antigamente isso não era problema. Santo Antão do deserto, por exemplo, nunca tomou banho, e se orgulhava de nunca ter molhado os pés. Já imaginou isso no mundo atual? 

Quanto aos tipos de vocação eremítica, podemos lembrar: 

Eremitismo autônomo :- é o que sigo e sobre o qual escrevo no blog e no site. É independente da diocese e do bispo. Pode ser vivido em qualquer lugar. Pode ser vivido por leigos, viúvos, não fazem votos públicos. Se quiser, pode fazê-los privadamente. Deve ter um (a) diretor(a) espiritual. Geralmente os (as) eremitas que depois se consagram como eremitas diocesanos passam um tempo de experiência como eremitas autônomos (as). É claro que quem segue esse tipo de eremitismo deve ter uma fonte de renda estável. Muitos são artesãos, mas atualmente alguns trabalham com trabalhos pela internet. O (a) eremita autônomo fica mais escondido, por assim dizer, que o diocesano, pois sua consagração não é pública. Geralmente são proibidos de usar o hábito. Eu sempre sugiro, para quem me pergunta, que pode usar talvez um tipo de uniforme, como calças jeans e camiseta estampada com dizeres eremíticos. 

Eremitismo diocesano: - é o ligado à diocese e ao bispo. Nele se faz os votos públicos de castidade, pobreza e obediência. Geralmente a diocese dá a casa, mas a manutenção deve ser por própria conta. Nesse sentido eu penso que o voto de pobreza para ele (ela) fica um pouco prejudicado, pois ele (ela) tem que se sustentar, e para isso, fazer algum tipo de trabalho, se não tiver outro tipo de renda. Pode-se usar algum tipo de hábito que esteja de acordo com o Bispo. 

Eremitismo monástico:- é o ligado a uma ordem religiosa e seus seguidores possuem um certo tempo do dia em comunidade com outros eremitas, como a oração comunitária. 

Eremitismo recluso: - Era-o Santo Antão do deserto. Atualmente é muito difícil encontrar. Em teoria, devem viver na própria cela, em reclusão, nunca sair dela. É obrigatório que haja alguém que sustente os que escolheram esse tipo de vida. Saem da cela apenas para o que for estritamente necessário, como para a Santa Missa. 

Fontes usadas: