27 julho 2011

LV-1-CAPÍTULO 15

 CAPÍTULO 15

Das obras feitas com caridade

1. Por nenhuma coisa do mundo, nem por amor de pessoa alguma, se deve praticar qualquer mal; mas, em prol de algum necessitado, pode-se, às vezes, omitir uma boa obra, ou trocá-la por outra melhor. 

Desta sorte, a boa obra não se perde, mas se converte em outra melhor. 

Sem a caridade, nada vale a obra exterior; tudo, porém, que da caridade procede, por insignificante e desprezível que seja, produz abundantes frutos, porque Deus não atende tanto à obra, como à intenção com que a fazemos.


2. Muito faz aquele que muito ama. 

Muito faz quem bem faz o que faz. 

Bem faz quem serve mais ao bem comum que à sua própria vontade. 

Muitas vezes parece caridade o que é mero amor-próprio, porque raras vezes nos deixa a inclinação natural, a própria vontade, a esperança da recompensa, o nosso interesse.

3. Aquele que tem verdadeira e perfeita caridade em nada se busca a si mesmo, mas deseja que tudo se faça para a glória de Deus.

 De ninguém tem inveja, porque não deseja proveito algum pessoal, nem busca sua felicidade em si, mas procura sobre todas as coisas ter alegria e felicidade em Deus.

 Não atribui bem algum à criatura, mas refere tudo a Deus, como à fonte de que tudo procede, e em que, como em fim último, acham todos os santos o deleitoso repousar. 

Oh! Quem tivera só uma centelha de verdadeira caridade logo compreenderia a vaidade de todas as coisas terrenas!