21 março 2011

REGRA DE S. BENTO - 54 a 57



CAPÍTULO 54 - Se o monge deve receber cartas ou qualquer outra coisa

Não seja permitido de modo algum o monge receber ou enviar a seus pais ou a qualquer pessoa ou um ao outro cartas, eulógias, ou quaisquer pequenos presentes, sem permissão do abade.
E também, se alguma coisa lhe for enviada pelos seus pais, não presuma recebê-la sem que seja mostrada ao Abade. Se ordenar que a receba, esteja ainda no poder do Abade ordenar a quem a coisa deve ser dada: e não se entristeça o irmão a quem, porventura, a coisa fora enviada, a fim de não dar ocasião ao diabo. Quem presumir proceder de outra maneira, seja submetido à disciplina regular.

CAPÍTULO 55 - Do vestuário e do calçado dos irmãos

Sejam dadas vestes aos irmãos de acordo com as condições e temperatura dos lugares em que habitam porque, nas regiões frias, tem-se necessidade de mais, e nas quentes, de menos. Cabe ao Abade a consideração disso. Cremos, porém, que, para os lugares de temperatura mediana, aos monges são suficientes uma cogula e uma túnica para cada um: a cogula felpuda no inverno, fina ou mais usada no verão, e um escapulário para o trabalho; para os pés: meias e calçado. Não se preocupem os monges com a cor e qualidade de todas essas coisas, mas sejam as que se puderem encontrar no lugar onde moram e as que puderem ser adquiridas mais barato.

Providencie o Abade a respeito da medida, para que estas vestes não fiquem curtas para quem as usa, mas de boa medida. Os que recebem novas entreguem sempre, ao mesmo tempo, as velhas, que devem ser recolocadas na rouparia, para os pobres. Basta ao monge possuir duas túnicas e duas cogulas, para a noite e para poder lavá-las; o que houver a mais é supérfluo e deve ser cortado. E devolvam também os calçados e tudo o que está velho, quando recebem os novos. Os que são mandados em viagem recebam calças, da rouparia, e devolvam-nas lavadas, ao mesmo lugar, quando voltarem. Suas cogulas e túnicas sejam um pouco melhores que as de costume; recebam-nas da rouparia e, voltando, restituam-nas.

Como peças que guarnecem o leito, bastam uma esteira, uma colcha, um cobertor e um travesseiro. Esses leitos devem ser freqüentemente revistados pelo Abade para que não haja ali coisas particulares. E aquele com quem for encontrada alguma coisa que não recebeu do Abade, seja submetido a pesadíssimo castigo. E para que este vício da propriedade seja amputado pela raiz, seja dado pelo Abade tudo o que é necessário, isto é: cogula, túnica, meias, calçado, cinto, faca, estilete, agulha, lenço, tabuinhas, para que se tire a todos a desculpa de necessidade. No entanto, considere sempre o Abade aquela sentença dos Atos dos Apóstolos que diz: "Era dado a cada um conforme precisava". Assim, pois, considere o Abade as fraquezas dos que precisam e não a má vontade dos invejosos. Mas, em todas as suas decisões, pense na retribuição de Deus.

CAPÍTULO 56 - Da mesa do Abade

Tenha sempre o Abade a sua mesa com os hóspedes e peregrinos. Toda vez, porém, que não há hóspedes, esteja em seu poder chamar dentre os irmãos os que quiser; mas um ou dois dos mais velhos devem sempre ser deixados com os irmãos, por causa da disciplina.

CAPÍTULO 57 - Dos artistas do mosteiro

Se há artistas no mosteiro, que executem suas artes com toda a humildade, se o Abade o permitir. 

E se algum dentre eles se ensoberbece em vista do conhecimento que tem de sua arte, pois parece-lhe que com isso alguma vantagem traz ao mosteiro, que seja esse tal afastado de sua arte e não volte a ela a não ser que, depois de se ter humilhado, o Abade, porventura, lhe ordene de novo. Se, dentre os trabalhos dos artistas, alguma coisa deve ser vendida, cuidem aqueles por cujas mãos devem passar essas coisas de não ousar cometer alguma fraude. Lembrem-se de Ananias e Safira, para que a mesma morte que esses mereceram no corpo não venham a sofrer na alma aqueles e todos os que cometerem alguma fraude com os bens do mosteiro. 

Quanto aos próprios preços, que não se insinue o mal da avareza, mas venda-se sempre um pouco mais barato do que pode ser vendido pelos seculares, para que em tudo seja Deus glorificado.