24 abril 2024

CASTIDADE, SECRETO MARTÍRIO

 



31/10/2022

Nós admiramos muito os santos mártires, que enfrentaram fogo, animais, espadas, com muita paz e oferecimento de si próprios, por amor a Deus.

Nestes dias, em minhas meditações, algo está martelando a minha cabeça: a castidade pode ser comparada, com toda a certeza, com um martírio! E é um martírio secreto, pois dentre todos os vícios, o que mais se pode esconder são os que vão contra a castidade, a não ser que haja uma gravidez decorrente de algum relacionamento íntimo, ou alguma coisa desse tipo.

Como podem as pessoas saberem se estamos guardando a castidade? Na maioria das vezes, não há como.

Guardar a castidade significa estar constantemente em luta, luta contínua, acirrada. Um pequeno deslize pode ser a causa da ruína total de uma pessoa que esteja lutando contra si mesmo para ser casto(a).

Como eu já disse em outro artigo, a castidade nos traz muita paz e tranquilidade interiores. As pessoas que não a guardam estão sempre ávidas de prazer, de um prazer que nunca se sacia e que nos traz muitos aborrecimentos, angústias, desânimos, falta de interesse pelas outras coisas e assim por diante. Muitos até cometem suicídio, tal o desespero que corrói seu interior.

Outra vantagem da castidade é que perdemos o interesse individualista pelas pessoas, ou seja, deixamos de desejar as pessoas para nosso prazer. Quem não guarda a castidade geralmente faz uma seleção de pessoas de seu convívio: escolhe sempre as que mais o(a) atrai, fazendo pouco caso nos mais idosos, nos menos prendados esteticamente falando etc. Quem guarda a castidade não faz acepção de pessoas: ama a todos e a todas igualmente, sem interesse sexual por nenhuma. É claro que, muitas vezes, as pessoas castas sentem atração por este ou aquele tipo de pessoa, mas como está acostumado(a) a guardar a castidade, sabe como controlar seus instintos.

A convivência das pessoas castas é universal, ou seja, abrange pessoas de todas as idades, tipos, mesmo sendo esteticamente desfavoráveis, porque não olha o corpo e o porte físico delas, mas sim, o interior.

É incrível como passamos a conhecer melhor as pessoas quando excluímos de nossa mente qualquer interesse sexual por elas! Descobrimos o que há por dentro daquela beleza exterior toda, ou por dentro daquela “feiura” exterior toda. E muitas vezes nos espantamos pelo fato de nunca termos antes visto essa beleza interior naquela pessoa.

Isso é tão verdade que certa vez perguntaram a um sacerdote a cor da empregada dele. Ele precisou pensar, porque nunca havia reparado se ela era mais para o negro do que para o branco, ou vice-versa. Sua amizade por ela era acima de qualquer interesse corporal. A sua empregada era morena. E ele só descobriu isso depois de vê-la, após essa pergunta que lhe fora feita.

É maravilhoso ser casto(a). Deus se apresenta a nós com maior intimidade, com maior amizade, e Maria também. Nosso Anjo da Guarda se mostra mais ativo em nossa vida, e uma alegria interior cresce a cada dia. Nós nos sentimos livres, seguros, e as cores do universo se tornam mais coloridas, mais fortes. Começamos a perceber a beleza das pessoas e da natureza de forma diferente do que em nosso tempo talvez de não-castidade.

Há muitos santos e santas que viviam uma vida até devassa, nesse ponto, mas se converteram e se tornaram santos felizes, amigos das pessoas, muito procurados. Um deles é São Carlos de Foucauld. Quando mais jovem, sem fé alguma, ele tinha uma amante francesa chamada “Mimi”. Vejam só! Ele era milionário, participava de festas o tempo todo, mas se enjoou disso. Começou, então, a pedir a Deus: “Meu Deus, se vós existis, fazei-me acreditar em vós!” E a graça foi-lhe concedida. Desde que ele passou novamente a acreditar em Deus, não conseguiu viver outra vida que não fosse uma dedicação plena a Ele. Entrou numa Trapa (mosteiro rigoroso), mas saiu de lá porque queria viver uma pobreza maior, e acabou indo viver no deserto do Saara, em Tamanrasset, com o povo mais atrasado do mundo naquele tempo: os tuaregues. E aí, foi feliz. Casto e pobre. Quando era devasso e rico, era infeliz. Morreu assassinado por um jovem maometano, que disparou sem querer a arma quando o segurava, numa invasão de um grupo à sua casa, no dia 01/12/1916, aos 58 anos.

Nós talvez não morramos mártires, mas podemos, sim, abraçar esse martírio diário da castidade. É um martírio silencioso, ninguém vai ficar sabendo com certeza se somos ou não castos, mas Deus, Maria e nosso Anjo da Guarda vão saber. E vão nos apoiar e nos paparicar.